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LABORATÓRIOS INTERDISCIPLINARES DE CRIAÇÃO TEATRAL
a partir do Épico de Guilgamesh (terceiro milénio a.C)
PORTUGAL | PALESTINA | ITÁLIA | FRANÇA
2014 | 2015
RESIDÊNCIA EM LISBOA, de 16 a 22 de Dezembro de 2014
Organização e acolhimento Hugo Sovelas
Propositário Azul
RESIDÊNCIA EM GAZA E CISJORDÂNIA, de 4 a 17 de Janeiro de 2015
Organização e acolhimento Jackie Lubeck e Marina Barham
Theatre Day Production e Al-Harah Theater
RESIDÊNCIA EM VISEU, de 24 a 30 de Janeiro de 2015
Organização e acolhimento Sónia Barbosa
Teatro Viriato
RESIDÊNCIA EM MONTEMOR-O-NOVO 23 a 29 de Março de 2015
Organização e acolhimento Hugo Sovelas
O Espaço Do Tempo
RESIDÊNCIA EM SEILLONS-SOURCE-D'ARGENS, de 16 a 22 de Agosto de 2015
Organização e acolhimento Marina Meinero
Mairie de Seillon-Source-d'Argens
RESIDÊNCIA EM POLLINA, 24 a 30 de Agosto de 2015
Organização e acolhimento Patrizia D'Antona
Associazione Teatrale Còrai
RESIDÊNCIA EM LISBOA (Lx Factory) 7 a 18 de Setembro de 2015
Organização e acolhimento Elsa Valentim
ACT - Escola de Actores
O conjunto de residências artísticas de caracter itinerante, interdisciplinar e de formação teatral, a partir do Épico de Gilgamesh, decorrerá ao longo dos próximos meses em diversas cidades em Portugal, Palestina, França e Itália, desenvolvidos em interação com artistas destes vários países e culturas que trazem a sua própria visão sobre este texto anterior à Bíblia.
Reúnem um núcleo de criadores e estão abertos à participação de outros intérpretes nas áreas do teatro, da dança e da música, bem como artistas visuais, videastas, dramaturgistas e estudantes das áreas mencionadas.
Os participantes poderão interessar-se em participar na perspectiva do desenvolvimento dum percurso artístico próprio, outros numa perspectiva de enriquecimento da sua formação técnica e artística, outros ainda como forma de se darem a conhecer e ao seu trabalho.
"[Aquele que testemunhou o Abismo,] a fundação da cidade
[que conheceu] [......] em tudo era sábio!
[Gilgamesh, o que] testemunhou o Abismo, a fundação da cidade,
(que) conheceu [......], em tudo era sábio"
No texto mais antigo de que há registo, encontramos narrativas que anunciam o texto bíblico e as epopeias de Homero ou o teatro clássico. A novidade é o poder ser a partir do texto mais antigo que se expõem os nossos assuntos comuns sem precisarmos de apor associações teológicas e ideológicas imediatas. Sendo um texto fundador, comum ao imaginário que atravessa tantas culturas e credos religiosos hoje tão vincadamente apartados – mais por cinismo das estratégias políticas do que nos seus verdadeiros fundamentos – apresenta-se-nos como um território duma neutralidade nova e improvável.
O Épico de Guilgamesh é uma narração suméria datada do terceiro milénio a.C, e descoberta em placas de argila em 1849 em Nínive, na região norte do actual Iraque, pelo arqueólogo Austen Henry Layard. A primeira tradução moderna foi feita por George Smith e publicada em 1880. Conta a história do mítico rei Guilgamesh que a actual arqueologia comprova ter reinado por volta de 2750 a.C em Uruk, a sul do actual Iraque. Tido como o mais antigo texto da humanidade conhecido até hoje, tem sido objecto de contínuas e actualizadas traduções resultantes de novas descobertas arqueológicas que cruzam versões de épocas diferentes.
A leitura deste texto provoca uma inquietante sensação de reconhecimento duma humanidade frágil e universal, que nos chega aqui sem a carga doutrinária das palavras bíblicas dum Deus todo-poderoso que se distingue por ser bom (por oposição a ser mau), diante de quem Adão e Eva não podem senão sentir vergonha da própria nudez e onde a consciência começa por ser a consciência do pecado, do bem e do mal. Em Guilgamesh é toda uma outra história da consciência. Como um sopro de amor pela humanidade, as palavras transportam uma surpreendente luminosidade sobre a dolorosa luta do homem contra os seu próprio fim, e nisto reside uma dor sem culpa, sem estigma. A sua história é, no limite, a dum retorno a si mesmo depois dum longo caminho feito de separações e de encontros, de rupturas e de ligações, de perdas e conquistas, numa poética desmontagem das várias camadas que formam a nossa consciência e identidade.
Direcção artística e metodologia Nuno Nunes
Direcção de produção Hugo Sovelas
Direcção plástica Henrique Ralheta
Direcção música e sonoplastia a indicar
Versão em língua portuguesa do texto Francisco Luís Parreira
Apoio à dramaturgia Statt Miller
Interpretação PORTUGAL Hugo Sovelas
João Miguel Mota
Sofia Dias
Sónia Barbosa
Susana C. Gaspar
Outros actores e artistas locais a convidar
FRANÇA Marina Meinero
Outros actores e artistas locais a convidar
ITÁLIA Patrizia D'Antona
Outros actores e artistas locais a convidar
PALESTINA Atta Nasser
Outros actores e artistas locais a convidar
Produção Propositário Azul
Parcerias ACT - Escola de Actores
Al-Harah Theatre
Associazione Teatrale Còrai
Comune di Pollina
Espaço O Tempo
Theatre Day Productions
Teatro Viriato
Apoio Fundação Calouste Gulbenkian
Dir. Regional de Cultura do Alentejo
Objectivos:
· criar as condições de excelência para um trabalho aprofundado de análise dramatúrgica e de experimentação cénica das várias propostas de interpretação do texto, cruzando a visão de pessoas de culturas diferentes; este factor multicultural é essencial para uma abordagem que se quer plural e não estereotipada;
· promover a pesquisa formal e semântica através do intercâmbio artístico e a interdisciplinaridade entre actores, cenógrafos, músicos, figurinistas, bailarinos, videastas, etc, com condições para uma exploração ampla e sempre renovada do texto escolhido, através dum processo de contágio de sensibilidades diferentes, de modos particulares de exercer a prática artística e do cruzamento de diferentes percepções sobre os temas que o texto reflecte; a disponibilidade dos intervenientes para este contágio é essencial para alimentar o trabalho e produzir resultados inesperados que vão constituindo, pouco a pouco, um património e uma linguagem comuns;
· promover a especialização de intérpretes e de criadores através partilha e da aplicação de algumas ferramentas de trabalho das residências.
Conteúdos:
· Ponto de vista sobre o texto: “memória como necessidade”; “o despertar da consciência humana”; paralelismos e associações históricas; desmontagem psicanalítica do épico, os seus símbolos e arquétipos; dicotomia feminino/masculino (erotismo, poder, identidade); outras dicotomias (autocracia/democracia, inocência/consciência, vida/morte, poder/resignação).
· Ponto de vista sobre o intérprete: de onde nasce a palavra? Como aparece um texto na cena? Porque falamos?; A despersonalização e o ego; A problemática criativa da decisão; As direcções, a definição clara de acções e pensamentos; Espaço contínuo e descontínuo; caracterização coletiva de espaços emotivos, psicológicos ou quotidianos; Síntese, arbitrariedade e composição.
· Ponto de vista sobre a interdisciplinaridade e a contaminação do local: interpretação da materialidade específica dum lugar; exploração de recursos próprios às diferentes disciplinas artísticas intervenientes como via para a determinação dum território inesperado, novo e distante que desafie o olhar.